Se um dia o vento lhe soprar os ouvidos, ouve.
Se lhe instigar, voa.
Mas não feche as janelas
fingindo que em nada afeta
Em todo rosto que cala,
o que fala é o oposto.
Em cada canto,
em cada sala
um misto de afeto e desgosto.
Preso entre o querer e o fazer,
estende-se além
dos dedos da mão,
do seio da mãe.
Não cubra o rosto,
não feche os olhos,
não dê as costas.
O que desagrada
está em cada esquina,
o que tira o sono
a todo instante.
Não passa com o tempo,
não cala,
não cessa.
Mas, se preferir
aumentar a ilusão
de que é assim que
tem que ser,
talvez o seu peso dobre
talvez aumente o número de maços por dia
talvez adoeça
talvez enlouqueça...
Quem sabe até
vire um daqueles pobres coitados?
Só não se esqueça,
O vento tem que correr
O vento tem que voar
E a gente?
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