quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Feeling good

I see Monet paintings on my train's window, I dance in between the notes and I've been listening more than speaking, but, well, it's easier when everything around me makes me speechless.
There's nothing else to be said when Nina Simone's words make perfect sense.
It's the feeling that hits you when the movie ends but you don't feel like it's over because it's way too real.
It's putting your head outside the car's window and singing out loud to your favorite song. It's being on the road and not knowing where to go.
It's diving in the ocean and feeling part of it, feeling complete.
It's catching someone staring at you. It's desire, it's lust, it's love. It's fitting perfectly in someone's hug, it's wanting to say "I love you" twice a minute, but it's also having your space -please.
It's going home alone and enjoying your own company, it's dancing by yourself. 
It's not looking for excuses and saying yes.
It's falling but getting up. It's to give and receive.
It's succeeding in what scares you the most. It's to pray and to hope.
It's to fight and get hurt.
It's what makes you scream and also the things you whisper so sweetly.
It's both, heaven and hell, but it's also none, cause it doesn't have to be anything.
It's whatever the hell you want it to be as long as you're happy.
I'm a nonsense cliche, but, oh, well, I feel good.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

4:48 a.m. na pista de dança

Não me lembro do seu nome, mas ainda gosto do seu rosto.
Eu vejo seus olhos sambando por trás dos óculos, percorrendo a sala como gostariam de fazer os teus pés.
Você me olha, discreto, e eu finjo que não percebi. 
As pupilas param de dançar. Talvez sejam os meus trejeitos engraçados ou como de súbito paro de discutir sobre Putin para dançar Spice Girls. Vai saber. Mas você resolveu ficar.
Teus dedos tamborilam com o ritmo da música que começou a tocar. Clapton diz olá e eu, perdida entre memória e melodia, deixo de prestar atenção.
O colorido das luzes corre pelas quatro paredes e as pessoas se amontoam e viram a si mesmas do avesso na pista de dança. Sorrio. Somos mesmo, por instinto e por vontade, pura e eternamente, animais.
Que delícia é essa entrega, esse quê feroz que nos habita e nunca calcula ou premedita.
Eu queria me aceitar assim. Na essência e natureza.
Mas eu insisto e penso (muito mais que muito), achando que isso me leva além. 
Só nesse mês eu perdi as contas de quantas vezes eu quis me matar ou fugir pro mato e, horas depois, me encantei de novo com o mundo, a vida e as possibilidades.
O solo de guitarra ecoa pelas caixas de som e os passos de dança transformam-se em pulos.
Fecho os olhos e me apoio na parede atrás de mim. Ela também vibra e eu, desesperada e emocionada demais, choro. 
Choro esse que se transforma em gargalhada. O mundo gira e gira e gira... e eu não sei pra onde ir. Conformo-me. Clarice dizia, e eu imploro pra que seja verdade, que perder-se também é caminho.
Abro os olhos sem saber ao certo que cores e paisagens quero ver. Sem certeza de qual chão vou pisar ou no que vou me jogar de cabeça, mas ansiosa por aquilo que o universo ainda tem pra mostrar.
Alguém pergunta se tá tudo bem e, como de costume, digo que tá.
Os acordes de Bowie soam não me deixam negar: agora realmente está. Just for one day ou forever and ever. Tanto faz, é a mesma coisa.
Você se aproxima acompanhado de um sorriso espontâneo. Pergunta se eu bebi demais e se surpreende ao descobrir que eu nem bebi.
Sóbria. Só breu. Só eu. Sol.
Eu gosto das rugas que a sua testa faz quando você pára pra refletir e de como a gente transita entre danças bizarras e planos de ir pra Serra Leoa e Sibéria.
Por fim, nos despedimos com a indicação do seu livro preferido e a promessa de que eu o lerei. Um beijo e além.
Chego em casa inteira. Talvez eu nunca mais te veja, mas o fato de as palavras não terem tido a mera função de preencher lacunas faz valer a pena.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Cochilos e viagens no tempo

Hoje fechei os olhos e me transportei pra uma madrugada fria na tão cheia de histórias pra contar, Santo André.
Era, então, uma da manhã de dois de junho de dois mil e dois. Outono.
Entretanto, eu corria pela casa vestida com minha calcinha das Meninas Super Poderosas em uma animação pueril de fim festa: meu aniversário.
O mundo é mesmo muito, mas muito, fabuloso aos olhos de uma criança de cinco anos recém completados.
Brincava mais com a caixa dos presentes do que com os brinquedos em si. Em instantes me transformava em astronauta, princesa e cantora famosa. Era só querer.
A TV, uma LG preta que parecia um caixote e provavelmente tinha cinco vezes o meu peso, estava ligada no Cartoon Network e Dexter corria atrás da Dee Dee enquanto ela perguntava "pra que serve esse botão?". 
Não que eu estivesse prestando atenção, naquela hora tentava fazer com que as caixinhas de perfume que ganhei coubessem nos meus pés pra eu brincar de Cinderela, mas não deixava minha mãe desligar a TV porque gostava do clima de festa.
Cinco anos! Uma mão inteirinha, com todos os dedos! Idade de princesa.
Meu castelo ficava na Rua Independência, no Jardim Bela vista: um prédio de três andares todo florido e com vizinhos legais. Da varanda a gente via o ipê amarelo que anos mais tarde a prefeitura mandou cortar. O que mais eu poderia querer?
Ah, já sei! Brigadeiros. Os que sobraram da festa estavam na geladeira. Meus aniversários eram conhecidos porque era permitido comer os docinhos desde o início (até porque fala sério, gente, que maldade colocar aquelas delícias em cima da mesa pra inglês ver e só deixar a gente comer depois do parabéns). 
Minha mãe fazia um milhão de brigadeiros e eu comia, em média, oitocentos mil, enquanto meu pai me jogava pra cima e pra baixo e eu brincava de voar.
Àquela hora eu já estava morta de sono, mas não queria ir dormir porque eram quase duas e eu achava muito adulto estar acordada. Decidi, então, rebobinar minha fita cassete da Vaca e o Frango e assistir pela quadrilhonésima vez, mas com 8 minutos de filme eu já estava no sétimo sono.
Acordei por instantes no colo da minha mãe, que me levava pro quarto e cantava baixinho, mas voltei a dormir e a sonhar. Não existia em 2002, e não existe até hoje, lugar mais seguro. E mesmo que agora, catorze anos depois, ela não consiga mais me carregar, continua sendo o suporte dos meus sonhos todos.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Oma, oh my...

I wanna live in your arms and hear you whisper in my ears that I should go by some candy while my dad is not awake.
I wanna be the child you eternized in your mind. I want the innocence and the joy.
Oh, wow, it breaks my heart to know that I can't own the Earth and the sky.
I should have known, I should have known. 
I don't own my thoughts, my life and my goddamn conscience.
I don't control my feelings and I feel so lost deep inside my fears.
Sometimes I truly believe that I've been losing my manners and my mind. Grandma, in the bad days I am so sure that I'm going insane… quietly and subtly though, like good girls should.
I'm no good, I've told you so. You don't believe me cause you're a headstrong, but I do try to be better for and with you.
Love must really be extremely irrational, cause you still manage to put me in your arms and say things will be alright. And I believe you. 
I have to. Just like I do my best to believe in heaven: hope keeps me standing.
Stand here with me. For one more dance and film nights. For many more.
I like being your hummingbird and I love you.
 

Doida e doce

Eram 23:56 e eu estava deitada do lado esquerdo da cama ouvindo midnight, do Red Hot Chili Peppers.
Da janela, um espetáculo de raios de um céu que transitava entre luz e sombra como num piscar de olhos.
Era um daqueles dias tão bons que a gente fica sem saber direito à quem agradecer.
Amém.
Pensei em todas as pessoas com suas deformidades e desencantos, verbais e visuais, andando por aí procurando um lugar seguro pra se esconder e tentar ficar em paz. Cheias de sacolas e acúmulos sem saber aonde ir. Pensei em como é triste que sejamos nossos próprios fardos. 
Pensei em como, mesmo com tudo isso e a desgraça que insiste em trombar um qualquer a todo tempo, eu tive um dia ótimo.
Eu amo a vida e aceito meus pecados: hoje não queremos ser perdoados.

08/11/14

Eu queria não ser clichê, mas é isso

A realidade, eu gostando dela ou não, é que eu amo você.
Não estou deslumbradamente apaixonada pelos seus olhos ou pelo timbre da sua voz, como aconteceu antes. Eu te amo daquele jeito envolvente e avassalador que faz o tamanho dos braços injusto perto da vontade de abraçar.
Daquele jeito que me faz gaguejar e gesticular como uma idiota quando tento explicar.
E é isso. Não é algo que se escolhe ou se pode mudar. Aceito meu amor por você como aceito meus olhos castanhos, minha necessidade de viajar e meu medo de rejeição.
Entretanto, não sei se se trata de um amor romântico. Talvez eu te ame como amo o Dalai Lama, a Luiza e a Nicole. Por vezes prefiro acreditar que sim, pois tenho medo de insistir e descobrir que as duas partes não se encaixam nem se conhecem mais (isso me assusta muito...).
Só sei que te admiro e te adoro. Sei que te quero bem, descobrindo o mundo e a si mesmo, sendo feliz, saindo da inércia...
Isso não significa que eu não deseje estar perto de você, que não imagine um encontro de lábios, corpos e ideias e que, secretamente, você povoe meu pensamento antes de dormir.
Talvez seja porque você é uma constante de que eu gosto em um mundo onde tudo é novidade. Sem nem saber eu escolhi te manter aqui (e olha que eu sou péssima em manter contato).
Eu me aceito e te aceito também. Da maneira abstrata, quem sabe até um pouco disforme, de quem não sabe o que vai acontecer.
A hora é imprópria e a gente não deve nunca deixar de viver. É tempo de afogar-se nas loucuras e no novo, testar limites.
Ainda assim, continuo a semear o que me faz sentir em casa: ser eu mesma, ser inteira. Tem gente que é lar.
Amor não some com o fim da estação.

25/04/16

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Geografia da saudade

Hoje, durante a aula de Geografia, havia um globo terrestre perto de onde eu estava sentada. Coincidentemente, a parte que eu podia enxergar era a da "Südamerika".
Fiquei olhando o Brasil. Podia ver desenhados os rios e isso me encheu de saudade. Via um ponto que indicava Santarém, pertinho do Rio Tapajós, e, por Deus, que vontade eu tive de navegar por lá outra vez. No globo não era possível ver Alter do Chão, o paraíso banhado por aquele rio, que, ao vivo, parecia um mar e ali era representado por uma linha azul fininha.
A oeste, via-se Manaus, às margens de outra linhazinha, o Rio Negro. Um pouco à frente, ele se juntava ao Solimões e se tornava o Amazonas. Algo simples, certo? Dois rios que se encontram.
Olhei para as pessoas à minha volta, meu colegas de sala. Alemães, majoritariamente louros, embora houvesse uns três ou quatro com traços árabes. Pessoas incríveis, muito mais simpáticas do que o estereótipo que o resto do mundo faz dos alemães. No entanto, jamais entenderiam o encontro das águas e como é mágico o fato de que dois rios de cores diferentes naveguem lado a lado sem se misturar, por quase 10 km, e depois se tornem um dos (se não o) maiores rios do mundo.
Pensei em como explicar a proporção da miscigenação para aquelas pessoas que ficaram chocadas quando viram uma foto da minha melhor amiga brasileira, Bia, que é ruiva e quase transparente. "Mas existe gente branca no Brasil?!?!!"
Caramba, como é que se explica farofa, arroz com feijão, pão de queijo, dendê, acarajé, brigadeiro e guaraná?
Como é que faço entender o movimento frenético e delicioso das músicas de Chico Science e o gingado encantador de Tom Jobim? Como é que faço entender a malandragem elegante de Chico Buarque e a sacanagem dançante da Furacão 2000? (Puts, que vontade de dançar "Já é Sensação") 
Como dar uma dimensão real de quão grande é o Brasil e deixar claro a importância do debate "é biscoito ou é bolacha"? Deixando claríssimo também que é bolacha.
Como é que eu conto do carnaval de Olinda, dos protestos na Paulista e do samba carioca? Que a gente não mora em ocas, que a capital é Brasília e que ela tem o formato de um avião?
Não tem como, não basta explicação. O Brasil é uma experiência sensorial que é sensacional.
Não, eu não quero voltar. Não agora, não tão já. Mas hoje me senti grata e rica por ter nascido lá.