quinta-feira, 7 de abril de 2016

Geografia da saudade

Hoje, durante a aula de Geografia, havia um globo terrestre perto de onde eu estava sentada. Coincidentemente, a parte que eu podia enxergar era a da "Südamerika".
Fiquei olhando o Brasil. Podia ver desenhados os rios e isso me encheu de saudade. Via um ponto que indicava Santarém, pertinho do Rio Tapajós, e, por Deus, que vontade eu tive de navegar por lá outra vez. No globo não era possível ver Alter do Chão, o paraíso banhado por aquele rio, que, ao vivo, parecia um mar e ali era representado por uma linha azul fininha.
A oeste, via-se Manaus, às margens de outra linhazinha, o Rio Negro. Um pouco à frente, ele se juntava ao Solimões e se tornava o Amazonas. Algo simples, certo? Dois rios que se encontram.
Olhei para as pessoas à minha volta, meu colegas de sala. Alemães, majoritariamente louros, embora houvesse uns três ou quatro com traços árabes. Pessoas incríveis, muito mais simpáticas do que o estereótipo que o resto do mundo faz dos alemães. No entanto, jamais entenderiam o encontro das águas e como é mágico o fato de que dois rios de cores diferentes naveguem lado a lado sem se misturar, por quase 10 km, e depois se tornem um dos (se não o) maiores rios do mundo.
Pensei em como explicar a proporção da miscigenação para aquelas pessoas que ficaram chocadas quando viram uma foto da minha melhor amiga brasileira, Bia, que é ruiva e quase transparente. "Mas existe gente branca no Brasil?!?!!"
Caramba, como é que se explica farofa, arroz com feijão, pão de queijo, dendê, acarajé, brigadeiro e guaraná?
Como é que faço entender o movimento frenético e delicioso das músicas de Chico Science e o gingado encantador de Tom Jobim? Como é que faço entender a malandragem elegante de Chico Buarque e a sacanagem dançante da Furacão 2000? (Puts, que vontade de dançar "Já é Sensação") 
Como dar uma dimensão real de quão grande é o Brasil e deixar claro a importância do debate "é biscoito ou é bolacha"? Deixando claríssimo também que é bolacha.
Como é que eu conto do carnaval de Olinda, dos protestos na Paulista e do samba carioca? Que a gente não mora em ocas, que a capital é Brasília e que ela tem o formato de um avião?
Não tem como, não basta explicação. O Brasil é uma experiência sensorial que é sensacional.
Não, eu não quero voltar. Não agora, não tão já. Mas hoje me senti grata e rica por ter nascido lá.

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