terça-feira, 21 de julho de 2015

Madrugada em claro (e em todas as cores do arco-íris)

A madrugada é mesmo engraçada. Cantarolo um segundo e já são duas, me distraio um instante e já são três e quarenta e cinco.
Antes de o galo cantar indago: quantas madrugadas são vocês?
E as palavras se portam como números na ponta da língua ou na ponta do lápis. Multiplicam-se, dividem-se e, antes que eu possa me dar conta, já estão inventando histórias e criando estrofes. Portam-se, então, como heróis ou trovadores, que querem mudar o mundo, mover montanhas, cantar façanhas, contar vantagens e viver viagens.
Não são produto nem querem ser possuídas. Existem: que posso eu fazer? Direito a forma hei de lhes dar.
Mas, quando finalmente encontro-me nos lençóis, é o sol que quer saber o que é que há.
A madrugada é mesmo engraçada, eu já nem sei se ela sequer existiu.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Contradiznão

Que nada 
do que nos cabe 
se acabe

E se?

Mas se,
que no presente e no passado
só afago.
O fardo? C'est fini!
Como tudo o que está por vir

E que 
o acaso acenda no amargo 
numa quarta feira a tarde 
no meio da 
r
u
uma tal felicidade 
sem casa, 
sem cara, 
sem credo.

Porque o instante 
é o feto do eterno 
e o eterno está 
sempre por perto. 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Entre a memória e a vitória

Tenho andado um tanto nostálgica.
Sinto falta de programas de TV que não existem mais e da vida como costumava ser. 
De repente parar pra prestar atenção em como os anos têm passado rápido é assustador: o que parecia ontem está em dois mil e três, as memórias se confundem, os rostos e nomes são esquecidos, alguns já nem mesmo têm importância, e eu sou um outro alguém.
Não sou em nada parecida com o que sonhei para mim e o mundo se desenha, cada vez mais, como um enorme mistério. Ou será que sou eu quem só se vê em pontos de interrogação? Tinha inúmeras certezas e tudo parecia mais simples, concreto. Dominar o mundo era trivial e a baixa estatura não me impedia de alcançar qualquer cousa com as pontas dos dedos. 
O que era semente já criou raízes profundas, mas ainda busca o céu, descontrolada e incessantemente.
Sinto muita saudade e muita vergonha também.
Tantos erros cometidos... muito do que julgava importante é agora inútil, ou mesmo fútil. 
Os pensamentos de outrora já não me cabem, como muitas das roupas antigas.
Mas foi só quando alguém perguntou "Cade a menina que estava aqui?" que entendi.
Senti compaixão pela menina que fui, pela menina que ainda sou, por saber que, como a água, me mantive fluída e disse não a qualquer espécie de forma definida. Os caminhos são muitos e as chances de (re)conhecê-los são incontáveis. Menina que flui.
Eu só tenho dezessete, a Via Láctea tem treze bilhões. Acho que posso me perdoar. Acho que posso me amar. Acho que posso me reinventar e acho que olhar pra trás não precisa ser melancólico, pode ser só aprendizado, pode ser o que ficou no íntimo, no coração.
Há tempos tento salvar pessoas de seus demônios enquanto deixo os meus próprios de molho.
Ainda que eu tenha a vida inteira, quero encará-los agora, como me encaro no espelho todas as manhãs (olheiras, incertezas e imperfeições, mas ainda de pé).
Eu tenho dezessete e muito está por vir, a própria Terra não teve a Lua de imediato e Mick Jagger não era o líder dos Stones desde o começo, mas é estranho, porque agora posso me lembrar de dez anos atrás. Antes isso era quase todo o meu tempo de vida. Ainda é, né?
Eu não sei.
E isso é bom.