sábado, 16 de janeiro de 2016

Bye Brasil, my Brasil...

Sem sentimentalismo porque eu nunca fui disso... Ah, tá! Quem eu tô tentando enganar? 
Por mais que eu viva na estrada, com as despedidas eu nunca vou estar acostumada. 
Eu tento ensaiar o que dizer: frases de efeito, lições de moral... tudo me parece banal.
O fato é que o sonho de uma vida inteira pinta-se agora de realidade. Isso encanta, mas também assusta. Desperta um turbilhão de sentimentos, alguns eu sequer conhecia. 
De repente me vejo olhando pro mundo com novos olhos que vão além da retina e da rotina, o que era de todo dia vira saudade, buscar e desbravar o novo torna-se necessidade. 
Passei tempo demais querendo estar em outro lugar, agora visto o orgulho de ser de onde eu sou. Carrego o sobrenome e os traços de toda parte. Tá na cara: Sou brasileira. Índia, portuguesa, libanesa. Miscigenada: branca, preta e parda. Eu sou de toda parte.
Vou sentir falta do contato físico e do estado de espírito. Do samba no pé, do arroz com feijão... aqui é sempre verão! 
Grandioso. Terra da maior floresta do mundo, de praias paradisíacas e cidades caóticas. Gente em tudo quanto é canto: do sertão aos onze milhões da megalópole. 
Plural: muitos sotaques, histórias, culinárias... heranças de diversas origens. 
Um país novo e de povo multicolorido e multicultural. 
Hoje pareço estar dizendo tchau, mas o que eu vivi aqui me faz quem eu sou. Corre nas veias e palpita no coração. 
Daqui eu vim, pra toda parte eu vou. 
Sou sul-americana. Brasileira. Paulistana. 
Adepta de um estilo de vida que deixa marcas: os ralados no joelho, as marquinhas de biquíni e as que chegam até a alma. 
Amo as pessoas e o amor que eu recebi aqui não tem igual. A essa altura sei que a distância física não é barreira. Tem gente que é pra vida inteira, tem efêmero que se eterniza na memória. 
Obrigada por terem feito parte da minha história, seguiremos juntos de uma forma ou de outra. 

Com amor, como sempre, Jami.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Chiliques clichês

Eu preciso sair, espairecer.
Se eu fosse fumante seria uma ótima hora prum cigarro, mas não. Em vez de foder meus pulmões, decidi foder meu psicológico.
O fato é que eu sou racional e sensível demais. Os dois ao mesmo tempo, um contradizendo e tentando sufocar o outro.
Me magoo com bobagens, com falta de tato ou pura infantilidade, mas por saber que não faz sentido e saber como resolver tudo de maneira lógica, calo a vontade de chorar me repreendendo mentalmente.
Calar, entretanto, não impede a dor de estar lá. Isso vai se acumulando de maneira impossível de controlar.
Chega uma hora em que perco a pose e as estribeiras: transbordo.
Numa enchente violenta, tiro as pessoas de casa e viro o mundo de cabeça pra baixo. Inundo tudo. Explico e repito: nada nunca faz sentido.
Depois passa, me recolho. Com nojo e desconforto.
O que sobra é a carcaça, mas lavo as memórias e varro a calçada. Tudo em ordem pros que quiserem dar uma olhada.
Eu vou andando por aí, culpando a astrologia e o dia-a-dia e me aventurando em cada esquina. Lendo sem parar e cantando refrões como quem respira pela primeira vez. Tudo pra me transportar, tudo pra não transtornar, tudo pra me transformar.
Por entre paixões e chocolates quentes, enquadro a vida em cenas de cinema. A fotografia é bonita, os atores estranhos e o diretor é maluco. O enredo oscila: por horas é drama, de encher os olhos, depois é terror, no desespero e medo. Por fim se revela comédia. É preciso senso de humor pra chegar ao fim do dia.
Tudo é plausível, desde que não haja tédio. Na arte há possibilidade de a vida, pura e às vezes fria, ser feliz.
Abraça o caos e, sem mocinhos e vilões, está em casa.