terça-feira, 20 de outubro de 2015

Copo d'água em tempestade

Te guardei num acorde de violão desafinado e saí dançando pela rua, cambaleando em fim de festa, bem acomodada nas trocas de olhares de flash em flash.
Gostei da sensação de oásis, de ser feito miragem. A música boa que toca no rádio e a gente nunca descobre o nome. 
Te pintei efêmero, mas, na segunda feira, às seis da manhã do horário de verão, deixei a preguiça de lado e fui ver o sol nascer, deslumbrada e desvairada.
Fiz, sim, a matemática da vida real e ouvi as lições de moral que a hierarquia me obriga aceitar. 
Não estava nas nuvens, mas estar na Terra tinha de ser suficiente. Carreguei o peso que me colocam nas costas todos os dias: o fardo de ter que saber o que eu vou ser quando ainda não faço a menor ideia de quem sou eu e o fato de não saber lidar com as ideias conflitando com o mundo lá fora.
Mas, da forma estranha de quem não sabe pra onde ir, segui em frente. Sem nada a ver com coragem ou força de vontade, apenas o desespero para fugir do que é estático. A aversão aos mesmos caminhos, hábitos, maneiras e temperos.
Eram colapsos e mais colapsos, mas eu ainda cantarolava. E tinha um quê de você na melodia, escondido no cinza do dia-a-dia.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Pintando os sete mares

Passeio por entre renascentistas, pixadores, românticos e futuristas. Deslumbrada, apaixono-me e amaldiçôo-os por erros que quem cometeu fui eu. Prefiro assim. Repudio meus demônios como os expressionistas à guerra e a pop art ao consumo.
Perdida em uma vida registrada nos Operários de Tarsila, me encontro apenas nos azuis de Picasso.
Os outros agem de forma barroca em telas que eu prefiro não pintar: perfeitos em forma de horrendas histórias. Exagerados e envoltos por trevas, dividem o mundo maniqueistamente no chiaroscuro. Afasto-me. Prefiro viver à margem e ser heroína (ao menos aos olhos de Oiticica...).
Pela manhã, quando a luz impede o surrealismo de continuar, já que há quem ache necessário acordar, as manchetes de absurdos no jornal me fazem ter certeza: Deus é dadaísta.