terça-feira, 8 de julho de 2014

De cima do telhado

Há tantos quilômetros de distância entre nós que me irrita o fato de eles insistirem em transformá-los em milhas.
Alguém outro dia me parabenizou pela "minha" coragem e disse que é incrível o fato de eu voar tão alto com tão pouca idade.
Acho que todo mundo sabe do meu desejo por ser passarinho, mas, ora bolas, gosto muito do chão também. Gosto de pisar descalça, da lama entre os dedos, do barulho das pedras, da temperatura do mar.
Gosto da Terra com letra maiúscula e sem. Gosto do fato de sermos falhos e humanos. Gosto de estarmos destinados a cair sempre, mesmo que tentemos disfarçar o inevitável.
O vento no rosto é minha sensação favorita neste mundo, e não há melhor maneira de obtê-la senão estando em queda livre.
O nome já diz tudo, não? Livre como um passarinho, mesmo que na direção oposta.
Por que é que eu gosto de cidades grandes, com gente saindo pelo chão e se espremendo pra caber? Pessoas lutando por um lugar na fila do banco, no vagão do metrô, no camarote do show, na arquibancada do jogo e nas esquinas da vida...
Talvez seja pelo mesmo motivo pelo qual eu nunca calo a boca.
Eu tenho medo do meu silêncio, porque tenho medo do que ele me faria ouvir. Eu não caibo em mim e, embora já tenha culpado muito os Deuses que me fizeram assim tão deficiente de forma, hoje em dia, eu gosto. Gosto porque eu me esparramo pelo mundo. Se eu não tenho forma definida, posso ter todas as formas que quiser.
É como os brasileiros que acham que o que é público não é de ninguém, quando, na verdade, é de todo mundo. Ah, filhos da pátria, não se deixem transformar em filhos da puta.
Olha aí, agora mesmo tem um pôr do sol fazendo espetáculo na janela e é de graça até pra quem não tem um cartão de fidelidade ou uma janela. É de graça porque é uma graça divina (mesmo que eu ache essa palavra muito tia velha).
Olha aí, não é nada que eu não tenha visto antes, mas poder andar sem destino e simplesmente me doar às sensações, faz disto aqui um outro planeta, mesmo que no mesmo continente.
Como é que se exporta isso, hein? Porque eu me importo muito!
Quanto àquelas coisas que eu julgava inexistentes, sinto-me como uma desbravadora, mesmo que diante de olhos surpresos e risinhos. "Oh, you didn't know that?". Chiquinho e Katinha já diriam "tanto mar, tanto mar".

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