domingo, 25 de maio de 2014

Jamile

Desnortear-me é simples.
Basta pedir para que eu responda à pergunta "quem sou eu?"
Em três tempos o riso cala e a facilidade de devolver palavras é substituída pelo ato de dar ombros.
"Não sei. Tenho medo de descobrir."
Tenho medo de ser e tenho medo do ser. 
Vivo, intenso, pulsante. Correndo em busca das palavras certas, mas assustado com os pensamentos podres e indignos que se infiltram na melhor pose, do melhor ângulo, do que finge ser imagem.
Eu sou o pavor de ser declamada em público e o desejo pelas lágrimas de emoção e os aplausos do final.
Sou só Sol, mesmo quando me faço minguante. Crua a lua tua. Só não quero órbita. Me deixe cambalear como o bêbado da esquina que você ignora. Me deixe flutuar como a bailarina de pés feios que você paga pra ver.
Me deixe em paz, mesmo que o silêncio seja tormento. 
Porque eu sou o ímpeto e a mania de explicação.
Agora vem aqui e me abraça forte, com as duas mãos e todo o sentimento do mundo.
Eu sou o A que falta no começo do mar.
E é isso, eu soul. No inglês é alma e no português, sem l, vira nada.
Nada em que a gente nada, mergulha, se afoga e sai voando. 
Eu nunca quis fazer sentido, eu só quero fazer sentir.
Amém (com acento ou sem)

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