agora gaguejo sem saber o que falar.
Tudo tava sempre na ponta da língua,
mas isso teve um ponto final.
Nó na garganta.
Eu que falo muito,
pulo portões,
invado camarins
e gosto de ir além
de onde os limites
permitem penetrar,
me pego errando a letra,
enroscando os dedos nas pestanas
e desafinando nas conclusões.
Conclusões tornam-se confusões que prendem-me aos meus lençóis.
Vontade de ficar só,
cortinas pra não ver o sol,
desprezo por tudo o que sou,
desejo de tudo o que aquilo que nem sei.
Passa uma semana inteira
e chega
sem bater à porta
a segunda feira.
Encaramo-nos,
escancaramo-nos
e perdoamo-nos porque...
sim.
Já não nos vemos
como promessas de ano novo
que não se permitem cumprir.
A vida nunca foi
comprida o suficiente.
Que seja,
então,
sem doses homeopáticas ou
gente sem graça
de cara antipática.
Minha droga
é o turbilhão da vida inteira
direto na veia.
Quero dançar até suar,
tatuar um astronauta
e aprender mandarim.
Ir pra Rússia,
parar de pedir e dar desculpas,
aprender a dizer sim.
Quero mais certezas
sem perder o poder
de questionar.
Ter paciência,
entender química orgânica,
sonhar que nem criança.
Quero justiça
e não só esperança
pra mulheres,
negros e
quem tem outra forma de amar.
Basta de esperar.
Quero as cousas todas,
as cousas loucas
e aprender a viver com pouco.
Quero cama e corpo,
alma e o todo.
E quando um dia eu for
só um punhado de ossos,
a tataratataravó de que não se lembra o nome,
que eu paire em paz
pelo outro plano
ou seja lá quais forem os planos
dos deuses,
dos meses
ou dos monges.
Que seja
Sem teto,
sem terço,
sem grandes feitos,
mas com afeto.
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