terça-feira, 26 de agosto de 2014

A tristeza que eu não conhecia

Tenho medo de estar ao seu lado amanhã de manhã.

Você procura alguém que esteja contra o mundo com você.

Eu não vejo porque estar contra o mundo porque o acho um lugar sensacional. Nem mesmo o meu amor pelos anéis de Saturno me tiraria a vontade de morar aqui.

Você acha que as pessoas são cruéis, ruins.

Eu não. Meu professor de Filosofia cansou de me dizer que o meu erro é sempre partir do princípio de que as pessoas são boazinhas.

Eu não acho que as pessoas sejam boazinhas (nem acho que "boazinhas" seja um elogio), mas acho que elas são capazes de amar e, por amor, fazem todas essas cousas enojáveis. Talvez estejam amando as cousas erradas. Talvez não devessem amar cousas.

A essa altura você já deve estar morrendo de tédio e achando essa leitura um clichê com gosto de chiclete de morango artificial. É por isso que não gosto de falar de amor. Porque nunca sei o que dizer. Acabo gesticulando com as mãos como uma louca e esperando que as pessoas me entendam mesmo com a ausência de palavras corretas.

De nada adianta tentar ser como aqueles quadrinhos que começam com a frase "amar é..." e terminam com alguma cousinha boba que, de fato, é uma prova de amor, por mais insignificante que possa parecer.

É que é chato ter de provar tudo. Hoje mesmo, abrindo meu e-mail, tive de provar que não era um robô.

Ora! Amar é. Ponto final. Amar é em todas as eras que já se passaram e será amor nas eras que estão por vir. É amor em Era, Atenas e Afrodite. Amor em Hades, Áries e Mercúrio. Amor em Zeus, Deus e Jesus Cristo. Maomé e Hare Krishna, Shiva e Yemanjá. A virgem Maria e Joana d'Arc, o Faraó e Siddhartha. Yara e os guerreiros de Esparta.

É amor em Roma e na favela da Rocinha.

Um amor sem cor, sem nome ou endereço. Um amor que diz, sem medo ou por entre os dentes, "preencha-me e eu serei alimento".

Eles estão cegos porque veem o amor em papel, eu não estou completa porque anseio pelas respostas das perguntas erradas. Que seja por amor, mesmo que haja dor.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Contracapas

"Quando te esperei na porta do hotel e você não veio, 
Lembrei-me que a noite estava linda, repleta de estrelas e havia uma semi-lua que mais parecia uma moeda semi-enfiada no cofre da noite.
Lembrei-me que a metereologia prometia sol e que eu trouxera meu biquini.
Lembrei-me que eu queria ler ainda tantos livros... lembrei-me que eu poderia escrever...
Lembrei-me que havia alguém pra eu encontrar amanhã...
Lembrei-me dos tantos amigos que me rodeavam...
Lembrei-me que adoro cerveja... mesmo que engorde.
Lembrei-me de afofar o ninho do peito e abri-lo para que pouse um novo pássaro amoroso."

Kátia Diniz
08/11/1986 - Ribeirão Preto

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Sucesso

Querem privatizar o oceano.
Eles o têm vendido como um quadro na parede pra visita ver a vista (também pode ser cartão de crédito) e ai de você se não se enquadrar!
Erguem-se, então, os gigantes de concreto, amontoando-se por uma parte do azul como os paparazzi que pedem um pedaço da celebridade loira. Capa da revista hoje, banheiro do cachorro amanhã.
Cobra-se pelo barulho das ondas do mar, pelo bronze dos beijos do sol, pelo vento no rosto e por um lugar na sombra (pista, pista premium, camarote).
Não que isso impeça as árvores de serem derrubadas, o esgoto de ser lançado ao mar e o preconceito pela pele.
A lei da oferta e da procura pode ser bastante vantajosa quando tudo é raro, tudo é VIP.
Vendemos os negros e os índios, pagamos os dízimos, queimamos as bruxas, pedimos perdão pela fofoca e o tesão, nos arrependemos dos três cheeseburgers do almoço, compramos um carro flex e pagamos dois reais pelo etanol, cobramos as boas notas dos nossos filhos e a dedicação de nossas esposas de seios fartos e nos cobramos por salários mais altos do que o do homem da sala ao lado. Assistimos ao futebol na quarta-feira e compramos a cerveja da ex-BBB. Respeitamos a todos, temos até amigos que são. Vamos levar toda família pra Miami no verão.
Almas perdidas, ideais prostituídos, somos todos rapazes bem sucedidos.