quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Entre o louco e o são, Paulo

Que encanto canta Sampa?
A cidade de por enquanto,
a terra da vida inteira.

São Paulo grita
e com a vontade de gritar
vem o graffiti da parede
o pixo, o sujo, o nojo
vem o mendigo na calçada
da alta sociedade engravatada

São Paulo é inspirada
é inspirar
e expirar
Soar o som de si mesmo
suar em apartamentos apertados

A terra da garoa
tem sede
com toda a mágoa
do trocadilho da palavra,
falta água.

Sobra medo
trancas, cadeados, portões
Falta moradia?
e as tantas casas vazias?

Mas, se um dia,
em Higienópolis
ou Heliópolis,
seja entre balas de borracha
ou fogos de artifício,
as cores de Sampa
se fizerem nas cores do samba...
Ahhhh, meu bem,
então dança!
mergulha fundo
O mar em São Paulo
é amar.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Amanhecer a manhã sua

Acordei de um sonho como quem sai de um mergulho e me decepcionei ao ver que era cedo demais.
Todos ainda dormiam.
Tentei voltar ao sono, mas o encontro das pálpebras se recusou a acontecer.
Espreguicei-me, levantei-me e arrastei os pés até a cozinha em busca de um pedaço de pizza frio.
Pensei em como a vida num domingo de manhã não é nada cinematográfica e glamurosa.
Voltei ao quarto e vasculhei meus discos em busca de uma trilha sonora que salvasse o filme sem graça. Nada. De repente a música favorita parecia o barulho da rua ao meio dia: alto porém imperceptível. Nada havia no melhor dos álbuns da melhor das bandas. Canções que cabiam tão bem nos ouvidos que sabiam o caminho da porta e não tocavam a campainha nem o coração.
Olhei meus livros na estante. A maioria eu havia devorado em alguns dias e relido mais tarde, em noites amargas ou dias ruins, pra esquecer ou relembrar. No entanto, no canto superior direito, atrás de uma bandeira pendurada, se escondiam alguns livros lidos pela metade. Assombravam-me, inacabados e esquecidos. Não podia, no entanto, livrar-me deles. Assim como o metrô não pode parar entre duas estações. Um livro, na cabeceira da cama, tinha apenas dez páginas intocadas. Já podia prever o desfecho, mas recusava-me a sair daquela realidade. Recusava-me a ler uma última palavra que, sem dizer mais nada, expulsava-me de páginas outrora mágicas.
Estirei-me na cama. Queria alguém pra conversar. No celular eu via contatos de gente que eu não via há tempos. Não gostava mais das cores das paredes, não queria mais caber nas roupas do armário. Havia encontrado um novo sentido à expressão "cheia de si".
O choro de quem se emociona vendo o mesmo filme pela segunda vez não carrega a surpresa, o anseio, o mistério e o desespero do que não se sabe.
Não sabia quem eu era, não sabia o que queria e também não sabia de onde vinha aquele ralado no joelho, mas insistia em olhar pela faceta de semblante simpático que dizia que isso podia ser muito emocionante.
Calcei os chinelos, abri o portão da frente e fui tomar café na padaria.
Ouvi alguém rindo atrás do balcão e me dei conta de que ainda vestia meu pijama.
Era um novo dia e isso só podia ser dom. Amanheceu a manhã sua. Bom diga eu te amo.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Pelo visto virão

Finda o dia
escorre na sarjeta
um misto de inocência e alegria

Questionam,
entre clicks e mordidas,
se é o feto ou a placenta
na proporção do teto e da fazenda

A morte não padece
no beija flor que rodeia o lixo
ou no motorista que vê o pôr do sol
pelo vidro espelhado do banco central

Disseram-me fraca
pelas explosões e a aspirina
Contei, como os dedos das mãos,
que eu sou mercúrio além dos dias bons

Nada cala sem escalas
e os beijos perdidos
em faces estáticas
não sei se piam ou choram
o medo do ontem
o desgosto de hoje
E a incerteza do amanhã

Mas cala essa boca!
É verão!
Desce mais uma
desce a serra
Só pare de ansiar por um mundo são
Mas e São Paulo?
São Vicente.
E São Caetano?
São Sebastião.
São todos loucos.

Até nos corpos mais bronzeados
de sorrisos estampados
Há certeza de que verão invernos.

Em vão?
Não!
Na veia.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Flicts não quer saber de poesia

Eu percebi que escondo o rosto pra chorar mesmo quando não tem ninguém em volta.
Então eu me dei conta do tanto de cousa podre que tem aqui dentro. De como, apesar do blá, blá, blá e os ideais nem sempre praticados, eu ainda sou quase que inteiramente fútil.
Eu fico feliz que as pessoas gostem do que eu escrevo e se choquem ao me ler. É: me ler. Porque eu tô toda ali a todo instante, mas ninguém entende sem as legendas.
Eu gosto dos elogios e em muito me envergonha dizer isso, mas, sim, espero por eles. Quero que venham, por isso abro as portas, as janelas, os ouvidos e o coração. Não que nisso caibam os pecados todos, mas tenho medo de que ofusque a essência, o porquê de ter começado a rimar e prosear: o medo de explodir. Eu mesma nessa eterna limpeza da alma.
Apesar de todos os problemas, desgraças e a má sorte rolando por aí, tem sempre um lado bom. Ou eu sou mesmo abençoada e vivo num meio de gente de muito bem.
As pessoas dizem cousas bonitas, sabe? Assusta bastante.
Eu queria ser a coragem e audácia que eles dizem ver em mim.
Eu queria entender a alegria que as pessoas associam ao meu eu.
A verdade é que eu sou só alguém muito estabanada tentando a todo tempo não desmoronar.
E o tom do melancolia não é pra deixar mais interessante não, viu?
Quando eu não me deixo levar pela minha tendência imbecil de checar a merda do meu smartphone a cada dois milésimos, gosto muito de olhar pro céu. Principalmente durante a noite. E quando eu vejo uma estrela cadente, faço o primeiro pedido que vier à cabeça e passo uns dois minutos achando aquilo tudo muito mágico. Depois, me pergunto se ela vai cair na Terra e matar todo mundo. Ou então fazer algum estrago muito bizarro na Rússia que o Jornal nacional não vai noticiar simplesmente porque é mais importante falar da vinda da Jennifer Lopez ao Brasil.
Voltando ao céu: de vez em quando, tentando ver as constelações e ainda achando fantástico o fato de que mesmo de tão longe ainda consigo ver Marte avermelhado, eu me sinto um peixinho num aquário e fico esperando que algum portal seja miraculosamente aberto e eu seja abduzida.
Acho que isso é um jeito de tentar fugir sem resolver os problemas de fato. Minha mãe sempre diz que eu jogo a bagunça pra debaixo da cama pra que os outros pensem que ela não está lá, mas a minha cabeça continua caótica. Eu discordo muito da minha mãe (é uma das minhas funções!), mas ela está certa.
Não que eu não ame esse planeta. Eu sou apaixonada pelo oceano, acho que o Himalaia é mais fantástico que o Olimpo e a terra do nunca (escalar o K2 é um sonho e a esperança de um dia ir prum lugar muito melhor que o céu), me perco olhando pras nuvens, me encanta o relevo, a hidrografia e todas as outras cousas que chamadas por nomes assim parecem menos interessantes.
Indo além, eu gosto de gente. Gosto do urbano. Gosto do caos, do falho, do humano. Eu gosto de ter tanta gente pra falar, tantas etnias, tantos sotaques, tantas línguas, tantas opiniões com as quais eu não concordo... Eu gosto de falar de política! Eu gosto de expor minhas verdades, eu gosto de argumentar e abrir o leque de versões. Eu gosto até de descobrir que estou errada.
Eu quero estar próxima das pessoas porque, embora possam ser cruéis, como eu sou em inúmeras situações sem nem perceber, elas são universos inteiros.
E eu querer entender os outros e adentrar, mesmo que por poucos instantes, o amontoado de galáxias de cada um, enquanto fujo das minhas próprias, só vai atrapalhar a todo mundo sem que ao menos saibam o que de passa.
Eu peço desculpas.
Eu não vou falar dos meus sentimentos e das partes obscuras do meu, não tão poético, eu, porque tenho medo disso tudo.
É a minha lua em virgem e será minha ruína.