domingo, 29 de dezembro de 2013

Salgado

Não sei se a culpa é das cartas de amor que eu não escrevi.
Se foi o suor que escorria por meu rosto.
Se foram as horas que passei chorando no banho, deixando as lágrimas se confundirem com água que vinha de cima, só para que, no final, pudesse dizer que tudo estava bem.
Talvez tenham sido os erros na pontuação. Licença poética? Que nada!
Me tirava a paz, mas não o prazer.
O prazer do mar. De se sentir um só, quando não mais se nota os limites do corpo, onde termino eu e começa o mar. Sou setenta por cento água. Setenta por cento mar. Se isso não é amar, é amorte.
Mas como ser inteiro e continuar intacto?
E como ir fundo em terra firme?

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Sobre céu nublado e arco-íris

Faz de mim sua chuva, sua tormenta.
Faz isso sem esperar a bonança.
Tudo o que se permite ser desafinado me encanta.
Porque eu não gosto de rostos sem rugas. É como uma tela em branco, evitando sua própria criação. A gente se desenha.
A gente também se pinta, em sonho.
Só quem se aventura assim é que pode encarar os dias de cara e alma lavada.
Porque somos todos sonhos. A realidade é só o que a gente expõe.
Nunca lembro dos meus sonhos, e por isso peço que me leve pelas mãos.
Não faz bem atravessar a rua como quem pula de paraquedas. Não faz bem gritar pro mundo, e pra quem mais estiver prestando atenção, que eu nunca passei de um ponto de interrogação.
Assim, com tudo o que é desconexo e vital, construímos ninhos nas raízes. Abrimos mão de voar o que é de fora e abrimos asas pra moldar o que é de dentro.