sábado, 27 de dezembro de 2014

Já que as pegadas fazem cócegas

Quem se ajoelha, recorre à força maior e ali se estira sentindo o peso que o corpo (tão pouco!) traz, talvez entenda as minhas meias palavras.
Madrugada de dezembro: o calor escorre nas costas, o rio transborda às portas e os pés continuam percorrendo o caminho já trilhado por todo o mundo. O trote não é suficiente e os tropeços escancaram: rua sem saída e rio assoreado. 
Dos teatros ganhei Vivaldi e as quatro estações, dos botecos ganhei cartola e todas as emoções, mas, pensando nas coisas como são, nos acontecimentos que batem à porta sem ser convidados e em como não há a possibilidade de simplesmente bater a porta na face do recém chegado, as línguas gritam "inusitado!" enquanto os crentes pregam: premeditado. Indago o enfado e rimo calado sem nunca saber o que faço.
O que vem pode ser recebido como perfuração ou como abraço. O encontro jamais é calejado. 
Entre a roda da fortuna e a roleta russa a diferença é o modo de olhar. Se aquieta quem entende ou tem algo a perder. Quem deixa entrar o alvoroço, enfrenta. Peita e diz que pode ou chora e, enfim, perde.
Viver é veludo.
Gritaram meu nome, mas eu nunca soube que era eu.
O tempo inteiro eu era todos.

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