segunda-feira, 3 de março de 2014

Cabana imunda

Estava passeando por Embu das Artes hoje, até que me deparei com esse mendigo.
A princípio achei a cena engraçada, porque eu também tinha esse costume de brincar de cabaninha quando era criança.
Era meu jeito de fugir da realidade, ou criar a minha própria. Meu pedacinho de terra sem lei, onde o que eu quisesse que existisse, existia. Sem mais delongas.
Não importava se essa minha fortaleza era feita de lençóis e o que mais eu encontrasse pela frente. Era o lugar mais fantástico e seguro do mundo.
Estava lembrando disso tudo, toda nostálgica, até que me dei conta de que não é uma brincadeira para ele. É a sua única opção e, ao contrário de mim, ele não está fugindo da realidade. Aquele mendigo tem mais contato com ela do que qualquer um de nós.
Aquele mendigo, que, depois de me ver ali, olhando pra ele, se escondeu com as mãos, pode dizer, com todas as letras, o quão feia é a realidade quando não maquiada. Como ela mostra os dentes e morde. Como ela se apropria de nós, como ela se transforma em verme.
Então, me perguntei, finalmente: Qual é a diferença entre nós dois? É o berço? A falta de terço? Ou é o contexto?
Meu Deus! falamos o mesmo idioma, mas não a mesma língua!
Meu Deus, meu Deus, meu Deus! Ou será a falta do Senhor?
Podia ser eu!
Uma criança passou correndo ali por perto e eu pude ouvir sua mãe gritando "Sai daí que é sujo, Rafael! Olha o mindingo (sic) nojento!"
Então, cheguei a conclusão de que suja é aquela mulher, que ignorava o filho insuportável berrando por atenção.
Suja sou eu, que me deixo atormentar e, mesmo assim, não tenho a capacidade de fazer a menor diferença.
Sujo é qualquer um que se transforme em parasita, que transforme um homem em mendigo.

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