quarta-feira, 11 de maio de 2016

Cochilos e viagens no tempo

Hoje fechei os olhos e me transportei pra uma madrugada fria na tão cheia de histórias pra contar, Santo André.
Era, então, uma da manhã de dois de junho de dois mil e dois. Outono.
Entretanto, eu corria pela casa vestida com minha calcinha das Meninas Super Poderosas em uma animação pueril de fim festa: meu aniversário.
O mundo é mesmo muito, mas muito, fabuloso aos olhos de uma criança de cinco anos recém completados.
Brincava mais com a caixa dos presentes do que com os brinquedos em si. Em instantes me transformava em astronauta, princesa e cantora famosa. Era só querer.
A TV, uma LG preta que parecia um caixote e provavelmente tinha cinco vezes o meu peso, estava ligada no Cartoon Network e Dexter corria atrás da Dee Dee enquanto ela perguntava "pra que serve esse botão?". 
Não que eu estivesse prestando atenção, naquela hora tentava fazer com que as caixinhas de perfume que ganhei coubessem nos meus pés pra eu brincar de Cinderela, mas não deixava minha mãe desligar a TV porque gostava do clima de festa.
Cinco anos! Uma mão inteirinha, com todos os dedos! Idade de princesa.
Meu castelo ficava na Rua Independência, no Jardim Bela vista: um prédio de três andares todo florido e com vizinhos legais. Da varanda a gente via o ipê amarelo que anos mais tarde a prefeitura mandou cortar. O que mais eu poderia querer?
Ah, já sei! Brigadeiros. Os que sobraram da festa estavam na geladeira. Meus aniversários eram conhecidos porque era permitido comer os docinhos desde o início (até porque fala sério, gente, que maldade colocar aquelas delícias em cima da mesa pra inglês ver e só deixar a gente comer depois do parabéns). 
Minha mãe fazia um milhão de brigadeiros e eu comia, em média, oitocentos mil, enquanto meu pai me jogava pra cima e pra baixo e eu brincava de voar.
Àquela hora eu já estava morta de sono, mas não queria ir dormir porque eram quase duas e eu achava muito adulto estar acordada. Decidi, então, rebobinar minha fita cassete da Vaca e o Frango e assistir pela quadrilhonésima vez, mas com 8 minutos de filme eu já estava no sétimo sono.
Acordei por instantes no colo da minha mãe, que me levava pro quarto e cantava baixinho, mas voltei a dormir e a sonhar. Não existia em 2002, e não existe até hoje, lugar mais seguro. E mesmo que agora, catorze anos depois, ela não consiga mais me carregar, continua sendo o suporte dos meus sonhos todos.

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