sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Ser sem ter

Eu tinha um violão desafinado, lápis mal apontados e bloquinhos de papel.
Tinha também uma janela redonda que dava de frente pra uma avenida movimentada. Eu tinha um mundo diante dos meus olhos e outro na palma da minha mão.
Via uma vida com a qual eu não concordava e, ao meu lado, uma alma que eu entendia e de quem eu gostava.
Na mochila os anos passados que, um dia, tiveram a chance de voar para alguém, já eram apenas memórias engaioladas que, quando revividas, se tornavam vítimas de comentários daqueles angustiados que diziam ter vivido "os bons e velhos tempos". Tempos remotos, mas, de tão bons, eram esquecidos com a ajuda de um controle que, surpresa!, também era remoto.
Em um dicionário surrado esperavam palavras diversas e seus significados que se revelavam nada. Eu achava que aquelas 1000 páginas estáticas de palavras existindo sozinhas jamais chegariam aos pés daquela carta de amor, curta e com muito menos palavras, que tirou o sono e o chão de alguém. Pai dos burros? Com certeza não. Só pai lavras solitárias.
Finalmente, deixando de lado o ceticismo que eu deixei me dominar, e talvez até me cegar, fui.
E era, sim, o nascer do Sol de uma vida. Sabia que, em determinado momento, ele voltaria a se pôr e eu teria de aprender a andar no escuro. Mas era isso que tornava tudo tão especial. Nós somos instantes.

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