sábado, 7 de setembro de 2013

Terça-feira

Pedi desculpas, mas não por estar arrependida ou por sentir falta de algo ou alguém. Pedi desculpas porque me acostumei a alimentar o orgulho de outros e deixar com que me devorassem pouco a pouco. O mais difícil, na verdade, era manter o sorriso no rosto. Primeiro porque meu aparelho me incomodava e, segundo, porque eu queria mesmo era vomitar nos sapatos novos deles. Deixei passar. Mais uma vez, deixei passar. Deixei que os sapatos voltassem intactos para casa, deixei que aquele oceano de palavras virasse um tsunami e deixei que ele me afogasse, até que me arrastassem para areia e eu percebesse que ainda estava naquele mesmo bairro, com as mesmas pichações nos muros, as mesmas velhinhas voltando da missa e dando comida às pombas, o mesmo mendigo falando sozinho, os mesmos quarentões de barbas mal feitas no bar da esquina, a mesma loja, aberta, vendendo coisas desnecessárias e eu, ali, indo fundo, questionando o mundo. Reclamando do fato de tudo ser igual sem fazer grandes coisas para que fosse diferente. Cantarolando uma música da Elis Regina fazendo, assim, com que me sentisse genérica. Solitária, como todo mundo, porém não em silêncio.

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